Pré-carnaval
Caros,
Parece que tudo tem que ser um evento nessa nossa vida. Então, nada melhor do que um blog pra contar. Por enquanto, seguem as duas descrições da nossa incrível semana passada, quando participamos do concurso que escolheria o samba do Imprensa que eu Gamo, um bloquinho de jornalistas cariocas, e perdemos (mas ganhamos a amizade de seu Xangô da Mangueira e família.
18/01 by Ronaldo França
Aconteceu que foi o máximo! Cantamos a nos esbaldar com Tantinho e Xangô, Tia Maria... Uma honra até para quem não é do samba, como eu. Tantinho estava inseguro, porque ouviu o samba pela primeira vez no dia anterior. Chegou com tudo na cabeça, mas bastou ouvir duas ou três músicas no esquenta e lá se foi a memória. E então, com sua autoridade de puxador, nos convocou para um ensaio. O primeiro dos nove sambas já estava no palco. Fomos para o posto de gasolina em frente ao Teatro. Rua lotada na noite da Lapa. Chovia. E lá fomos nós cantar, na rua, com Tantinho. Paulão era o mais empolgado. Deu um show de animação. Tantinho, profissional, só na água mineral. Nesses instantes antes da entrada no palco, os acertos na parceira. Thomas ficou encarregado das deixas: "Reza Xangô!" Paulão comandou a empolgação. "E aí, e aí???", urrava. Wagnão do cavaco parecia tenso. O cavaquinho arrebentou duas cordas nesse ensaio. O temor era arrebantar no palco. Estava tenso, embora o previdente Paulão tivesse um outro cavaquinho, afinado, à mão. Tantinho, uma celebridade nas rodas de samba do Rio de Janeiro, sempre risonho, lenço à mão para enxugar o rosto, na melhor tradição da elegância do samba.
Lá dentro, a Fernanda, executiva número um do samba (competentíssima), comandava a organização. Gabriel da Serrinha ligava para saber das novidades. ("E as novidades...") Nossa torcida compareceu em peso. A turma entrou e ocupou a frente do palco. Seu Xangô ali, recebendo abraços e homenagens até dos concorrentes, como o Marceu Vieira, o vencedor da noite. Isso foi muito legal.
E fomos para o palco. Seu Xangô não quis subir. Era difícil para seus 82 anos. Cantamos sem sequer imaginar como estava a voz. Finalmente entendi o Tim Maia. "Cadê o retorno?" Serginho não conseguia enxergar a letra direito. O palco estava escuro e a letra em corpo 8. Só dava para ver o povo da Mangueira pulando à nossa frente. E Xangô ali embaixo, juntinho da gente, nos concedendo a honra sem tamanho.
Nosso samba era o mais bonito. A concorrência elogiou. Mas era grande para samba de bloco. Fizemos um clássico, mas acho que não era o melhor para um bloco. Será um prazer poder cantá-lo novamente com seu Tantinho.
Estão todos de parabéns. Ganhar era um detalhe. Quando alguém perguntar quem ganhou, vou dizer: ganhou quem cantou com Tantinho, Xangô, Tia Maria...
19/01 by João Gabriel
Fomos ontem ao aniversário de Xangô, no Carioca da Gema, para fazer
> > diplomacia e apagar algum possível ressentimento. Claudia e eu
> > chegamos por volta das nove, pegamos uma mesa bem posicionada e
> > ficamos esperando o povo da Mangueira chegar. Quando seu Xangô
> > apareceu, fui logo falar com ele. Percebi que havia um certo
> > ressentimento, sim. "Nosso samba tinha nível para ficar entre os
> > três, e nem foi classificado", disse ele. "Levei trinta caras do
> > jongo da Serrinha para ajudar no arranjo do samba para sábado, seria
> > lindo", lamentou dona Sônia, mulher de Xangô. Havia também um cara
> > da Serrinha na mesa. Percebi que a melhor diplomacia seria fazer
> > piada com o bloco Imprensa e enfatizar nossas boas intenções. Disse que o bloco não fazia por mal, mas eram todos
> > meio caretas, escolhiam sambas parecidos todo ano e não queriam a
> > inovação. A partir daí o clima desanuviou, ficamos fazendo piada em meio ao povo da Mangueira e da
> > Serrinha, e eu enfatizei que
> > somos a ala que defende a inovação e é contra o preconceito. Eles
> > adoraram e nos adotaram. Temos a partir de agora portas abertas na
> > Mangueira e no Império. Convidaram-nos para ir à verde e rosa
> > conhecer o povo do samba e visitar seu Xangô. Marcamos um churrasco
> > de confraternização. Melhor de tudo, estamos convidados também para
> > a famosa feijoada de Tia Maria, prima de Silas de Oliveira, na
> > Serrinha. Iremos, é claro. A essa altura, apareceram Paulão e
> > Verônica, que ficaram horas na mesa da Mangueira. Dona Sonia adorou
> > Paulão, a quem presenteou com a foto oficial de aniversário de seu
> > Xangô, envolta numa moldura de papel crepom verde e rosa (nós também
> > ganhamos uma).
> >
> > O melhor, no entanto, ainda estava por vir. Por volta da meia-noite,
> > dona Sonia nos chamou a um canto e disse: "Por que vocês não fazem
> > uma surpresa para o Xangô e cantam o samba para ele?" Como seria
> > petulância demais subir a um palco onde as atrações eram o grande
> > puxador Jurandir da Mangueira e a excelente cantora Luiza Dionizio,
> > liguei para seu Tantinho. Ele, no entanto, não poderia vir porque
> > estava num show. Disse Dona Sonia: "Não faz mal, cantem vocês
> > mesmos, vai ser até mais emocionante para ele, afinal vocês são os
> > autores". Muitas caipirinhas mais tarde, e depois de um ligeiro
> > ensaio com a banda (só tinha fera, músicos da escola de samba e um
> > maestro que tirava todos os acordes ouvindo o samba apenas uma vez),
> > subimos ao palco Paulão, eu e Thomas, que havia arrancado o pijama
> > no meio da noite para participar da festa. Obviamente Fernanda veio
> > junto -- ela foi recebida com todas as honras por dona Sonia, de
> > quem se tornou amiga, e pelo povo da escola. Cantamos o samba.
> > Apesar de nossas vozes desafinadas (Thomas Jamelão Traumann estava
> > rouco da noite anterior), demos o nosso recado e o povo todo dançou
> > ao som de "Xangô da Mangueira, Orixá da Notícia". Do palco, fiquei
> > emocionado ao ver que dona Sônia sabia cantar a letra inteirinha.
> > Depois da performance, Xangô foi nos cumprimentar (vou colocar esse
> > dado no meu curriculum vitae). Luiza Dionizio, a cantora que estava
> > fazendo o show, me abordou na saída e disse: "Adorei o samba. Mande
> > a letra para mim, quem sabe eu não canto em alguma apresentação". E
> > me deu o e-mail. No final da noite, repetiu o pedido. O grande
> > Jurandir da Mangueira foi falar com a gente sobre a performance, e
> > foi mais objetivo: "Vocês estão de parabéns, compositor não precisa
> > mesmo saber cantar, o importante é o entusiasmo." Diplomacia de
> > mangueirense. O gran finale foi cochichado por dona Sônia, ao ouvido
> > da Claudia: "Vocês foram a melhor coisa que aconteceu ao seu Xangô
> > nos últimos tempos"
No dia seguinte, 20/01, lá fomos eu e a Fernanda para Madureira na feijoada da Tia Maria. Foi tudo de bom. E no sábado, para coroar a semana movimentada, ainda participamos do ensaio técnico da Portela. Haja fôlego!
Xangô da Mangueira, orixá da notícia
Nas ruas de Laranjeiras
O Imprensa pede passagem
Pra cantar Xangô da Mangueira
Nesses dez anos de reportagem
Diretor de Harmonia
Mestre da improvisação
Que num momento inspirado
Mandou um recado
Pra próxima edição
A turma entendeu a mensagem
E na letra de um samba
Retribui a homenagem
Moro roça iaia
Nunca morei na cidade
Compro o jornal da manhã
Pra saber das novidades
(e as novidades)
Quem matou Lineu
Não foi o Zé Dirceu
O Palocci diz que sim
Quem mandou o Tsunami
Pra que discutir com madame
Foi Osama Bin
Eu bebo sim
Da água que o Lula bebe
Larry Rohter também
Mas ninguém percebe
Mas que delícia
Nós aqui outra vez
E o Imprensa que eu Gamo
Há dez anos com vocês
Reza Xangô da Mangueira
Orixá da notícia
Jornal que é bom chega cedo
Sem ter medo da polícia
(bis) Nem Paulo Francis, Boechat, Ancelmo ou Élio
Foi Xangô da Mangueira quem ditou o evangélio
Parece que tudo tem que ser um evento nessa nossa vida. Então, nada melhor do que um blog pra contar. Por enquanto, seguem as duas descrições da nossa incrível semana passada, quando participamos do concurso que escolheria o samba do Imprensa que eu Gamo, um bloquinho de jornalistas cariocas, e perdemos (mas ganhamos a amizade de seu Xangô da Mangueira e família.
18/01 by Ronaldo França
Aconteceu que foi o máximo! Cantamos a nos esbaldar com Tantinho e Xangô, Tia Maria... Uma honra até para quem não é do samba, como eu. Tantinho estava inseguro, porque ouviu o samba pela primeira vez no dia anterior. Chegou com tudo na cabeça, mas bastou ouvir duas ou três músicas no esquenta e lá se foi a memória. E então, com sua autoridade de puxador, nos convocou para um ensaio. O primeiro dos nove sambas já estava no palco. Fomos para o posto de gasolina em frente ao Teatro. Rua lotada na noite da Lapa. Chovia. E lá fomos nós cantar, na rua, com Tantinho. Paulão era o mais empolgado. Deu um show de animação. Tantinho, profissional, só na água mineral. Nesses instantes antes da entrada no palco, os acertos na parceira. Thomas ficou encarregado das deixas: "Reza Xangô!" Paulão comandou a empolgação. "E aí, e aí???", urrava. Wagnão do cavaco parecia tenso. O cavaquinho arrebentou duas cordas nesse ensaio. O temor era arrebantar no palco. Estava tenso, embora o previdente Paulão tivesse um outro cavaquinho, afinado, à mão. Tantinho, uma celebridade nas rodas de samba do Rio de Janeiro, sempre risonho, lenço à mão para enxugar o rosto, na melhor tradição da elegância do samba.
Lá dentro, a Fernanda, executiva número um do samba (competentíssima), comandava a organização. Gabriel da Serrinha ligava para saber das novidades. ("E as novidades...") Nossa torcida compareceu em peso. A turma entrou e ocupou a frente do palco. Seu Xangô ali, recebendo abraços e homenagens até dos concorrentes, como o Marceu Vieira, o vencedor da noite. Isso foi muito legal.
E fomos para o palco. Seu Xangô não quis subir. Era difícil para seus 82 anos. Cantamos sem sequer imaginar como estava a voz. Finalmente entendi o Tim Maia. "Cadê o retorno?" Serginho não conseguia enxergar a letra direito. O palco estava escuro e a letra em corpo 8. Só dava para ver o povo da Mangueira pulando à nossa frente. E Xangô ali embaixo, juntinho da gente, nos concedendo a honra sem tamanho.
Nosso samba era o mais bonito. A concorrência elogiou. Mas era grande para samba de bloco. Fizemos um clássico, mas acho que não era o melhor para um bloco. Será um prazer poder cantá-lo novamente com seu Tantinho.
Estão todos de parabéns. Ganhar era um detalhe. Quando alguém perguntar quem ganhou, vou dizer: ganhou quem cantou com Tantinho, Xangô, Tia Maria...
19/01 by João Gabriel
Fomos ontem ao aniversário de Xangô, no Carioca da Gema, para fazer
> > diplomacia e apagar algum possível ressentimento. Claudia e eu
> > chegamos por volta das nove, pegamos uma mesa bem posicionada e
> > ficamos esperando o povo da Mangueira chegar. Quando seu Xangô
> > apareceu, fui logo falar com ele. Percebi que havia um certo
> > ressentimento, sim. "Nosso samba tinha nível para ficar entre os
> > três, e nem foi classificado", disse ele. "Levei trinta caras do
> > jongo da Serrinha para ajudar no arranjo do samba para sábado, seria
> > lindo", lamentou dona Sônia, mulher de Xangô. Havia também um cara
> > da Serrinha na mesa. Percebi que a melhor diplomacia seria fazer
> > piada com o bloco Imprensa e enfatizar nossas boas intenções. Disse que o bloco não fazia por mal, mas eram todos
> > meio caretas, escolhiam sambas parecidos todo ano e não queriam a
> > inovação. A partir daí o clima desanuviou, ficamos fazendo piada em meio ao povo da Mangueira e da
> > Serrinha, e eu enfatizei que
> > somos a ala que defende a inovação e é contra o preconceito. Eles
> > adoraram e nos adotaram. Temos a partir de agora portas abertas na
> > Mangueira e no Império. Convidaram-nos para ir à verde e rosa
> > conhecer o povo do samba e visitar seu Xangô. Marcamos um churrasco
> > de confraternização. Melhor de tudo, estamos convidados também para
> > a famosa feijoada de Tia Maria, prima de Silas de Oliveira, na
> > Serrinha. Iremos, é claro. A essa altura, apareceram Paulão e
> > Verônica, que ficaram horas na mesa da Mangueira. Dona Sonia adorou
> > Paulão, a quem presenteou com a foto oficial de aniversário de seu
> > Xangô, envolta numa moldura de papel crepom verde e rosa (nós também
> > ganhamos uma).
> >
> > O melhor, no entanto, ainda estava por vir. Por volta da meia-noite,
> > dona Sonia nos chamou a um canto e disse: "Por que vocês não fazem
> > uma surpresa para o Xangô e cantam o samba para ele?" Como seria
> > petulância demais subir a um palco onde as atrações eram o grande
> > puxador Jurandir da Mangueira e a excelente cantora Luiza Dionizio,
> > liguei para seu Tantinho. Ele, no entanto, não poderia vir porque
> > estava num show. Disse Dona Sonia: "Não faz mal, cantem vocês
> > mesmos, vai ser até mais emocionante para ele, afinal vocês são os
> > autores". Muitas caipirinhas mais tarde, e depois de um ligeiro
> > ensaio com a banda (só tinha fera, músicos da escola de samba e um
> > maestro que tirava todos os acordes ouvindo o samba apenas uma vez),
> > subimos ao palco Paulão, eu e Thomas, que havia arrancado o pijama
> > no meio da noite para participar da festa. Obviamente Fernanda veio
> > junto -- ela foi recebida com todas as honras por dona Sonia, de
> > quem se tornou amiga, e pelo povo da escola. Cantamos o samba.
> > Apesar de nossas vozes desafinadas (Thomas Jamelão Traumann estava
> > rouco da noite anterior), demos o nosso recado e o povo todo dançou
> > ao som de "Xangô da Mangueira, Orixá da Notícia". Do palco, fiquei
> > emocionado ao ver que dona Sônia sabia cantar a letra inteirinha.
> > Depois da performance, Xangô foi nos cumprimentar (vou colocar esse
> > dado no meu curriculum vitae). Luiza Dionizio, a cantora que estava
> > fazendo o show, me abordou na saída e disse: "Adorei o samba. Mande
> > a letra para mim, quem sabe eu não canto em alguma apresentação". E
> > me deu o e-mail. No final da noite, repetiu o pedido. O grande
> > Jurandir da Mangueira foi falar com a gente sobre a performance, e
> > foi mais objetivo: "Vocês estão de parabéns, compositor não precisa
> > mesmo saber cantar, o importante é o entusiasmo." Diplomacia de
> > mangueirense. O gran finale foi cochichado por dona Sônia, ao ouvido
> > da Claudia: "Vocês foram a melhor coisa que aconteceu ao seu Xangô
> > nos últimos tempos"
No dia seguinte, 20/01, lá fomos eu e a Fernanda para Madureira na feijoada da Tia Maria. Foi tudo de bom. E no sábado, para coroar a semana movimentada, ainda participamos do ensaio técnico da Portela. Haja fôlego!
Xangô da Mangueira, orixá da notícia
Nas ruas de Laranjeiras
O Imprensa pede passagem
Pra cantar Xangô da Mangueira
Nesses dez anos de reportagem
Diretor de Harmonia
Mestre da improvisação
Que num momento inspirado
Mandou um recado
Pra próxima edição
A turma entendeu a mensagem
E na letra de um samba
Retribui a homenagem
Moro roça iaia
Nunca morei na cidade
Compro o jornal da manhã
Pra saber das novidades
(e as novidades)
Quem matou Lineu
Não foi o Zé Dirceu
O Palocci diz que sim
Quem mandou o Tsunami
Pra que discutir com madame
Foi Osama Bin
Eu bebo sim
Da água que o Lula bebe
Larry Rohter também
Mas ninguém percebe
Mas que delícia
Nós aqui outra vez
E o Imprensa que eu Gamo
Há dez anos com vocês
Reza Xangô da Mangueira
Orixá da notícia
Jornal que é bom chega cedo
Sem ter medo da polícia
(bis) Nem Paulo Francis, Boechat, Ancelmo ou Élio
Foi Xangô da Mangueira quem ditou o evangélio
1 Comments:
Regina, minha amiga e revisora de plantão do blog, anuncia que é HÁ dez anos com vocês e não A dez anos com vocês. Eu concordo, mas estou com preguiça de trocar porque dá trabalho... Mas vamos lá, afinal, eu sou jornalista, ainda.
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