sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Enganada por De Niro e por uma crítica mais ou menos no jornal fui assistir à uma porcaria chamada Amigo Oculto. Cacete, tudo bem que o De Niro não fa nada de bom há séculos, mas em filme de suspense podia ser mais ou menos pelo menos. É um festival de clichês, mas tão clichês que você passa o tempo todo rezando para acontecer alguma coisa que você não tenha visto antes em uma dezena de filmes do gênero. Cacete! Aliás, existe algum filme de terror com gato em que o coitado do bicho não morra de um jeito horrível? E nesse o gato está lá pura e simplesmente para morrer. Niguém brinca com ele, dá comida, nada. Assim que você vê o gato no começo do filme pensa: Ele vai morrer. Ai, ai, que tédio.
Mas fiquei surpresa com Menina de Ouro. Apesar de ser meio aquilo que a gente acha que vai ser (estou vendo filmes demais?), a história tem coração. Eu nem chorei como muita gente no cinema (alguns soluçavam altíssimo), mas achei que o filme discute algumas idéias interessantes, como por exemplo que existem bons relacionamentos construídos mais na base da admiração e do entendimento do que do parentesco.
E achei O Aviador e Ray bem fraquinhos. Sideways é médio, bem médio.
Mas fiquei surpresa com Menina de Ouro. Apesar de ser meio aquilo que a gente acha que vai ser (estou vendo filmes demais?), a história tem coração. Eu nem chorei como muita gente no cinema (alguns soluçavam altíssimo), mas achei que o filme discute algumas idéias interessantes, como por exemplo que existem bons relacionamentos construídos mais na base da admiração e do entendimento do que do parentesco.
E achei O Aviador e Ray bem fraquinhos. Sideways é médio, bem médio.
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Picaretas do samba
Samba ruim não coisa de hoje, vejam esse da Beija-flor de 1975
Grande decênio
Bira e Quininho
É de novo carnaval
Para o samba este é o maior prêmio
E o Beija-Flor vem exaltar
Com galhardia o grande decênio
Do nosso Brasil que segue avante
Pelo Céu, mar e terra
Nas asas do progresso constante
Onde tanta riqueza se encerra
Lembrando PIS e PASEP
E também o FUNRURAL
Que ampara o homem do campo
Com segurança total
O comércio e a indústria
Fortalecem nosso capital
Que no setor da economia
Alcançou projeção mundial
(E lembraremos)
Lembraremos também
O MOBRAL, sua função
Que para tantos brasileiros
Abriu as portas da educação
(É de novo...)
Grande decênio
Bira e Quininho
É de novo carnaval
Para o samba este é o maior prêmio
E o Beija-Flor vem exaltar
Com galhardia o grande decênio
Do nosso Brasil que segue avante
Pelo Céu, mar e terra
Nas asas do progresso constante
Onde tanta riqueza se encerra
Lembrando PIS e PASEP
E também o FUNRURAL
Que ampara o homem do campo
Com segurança total
O comércio e a indústria
Fortalecem nosso capital
Que no setor da economia
Alcançou projeção mundial
(E lembraremos)
Lembraremos também
O MOBRAL, sua função
Que para tantos brasileiros
Abriu as portas da educação
(É de novo...)
Relicário divinal
Fazer samba não é tão difícil assim. É só colocar duas palavras num gerador de texto: divinal e relicário. Olhando uns sambas antigos (e outros não tão velhos assim) vi que quase todos têm pelo menos uma delas.
Quiz do samba
De quem são esses versinhos tão inspirados que rimam anil com verossímil só pra confirmar a tese da Diana de samba não presta?
Pudesse meu ideal
Que é o carnaval
De encantos mil
Imortalizar neste poema
Cor de anil
Verossímil
Pudesse meu ideal
Que é o carnaval
De encantos mil
Imortalizar neste poema
Cor de anil
Verossímil
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Entrando para a história
Aconteceu de novo! Ontem fomos lá no Clan Café ouvir o Didi e o Constant, como todas as terças. Só que ontem, Tantinho da Mangueira apareceu por lá. Além de ser tudo o que é no mundo do samba, Tantinho foi o intérprete oficial de Xangô da Mangueira, Orixá da Notícia, nosso samba para aquele bloquinho de jornalistas. Pois não é que Tantinho trouxe no bolso a letra do samba e nos disse que queria cantar! E, depois de maravilhosas interpretações de Didi e canjas de Tantinho, lá foram todos eles para o palco novamente mostrar o samba que já está se tornando um mito na noite carioca. Daqui a pouco vai ter uma legião nos seguindo de bar em bar só para poder ouvir uma palhinha de Xangô da Mangueira, Orixá da Notícia. Ah, quem esteve lá também foi o nosso parceiro Serginho Garcia. Não em presença exatamente, mas, com um copo de cerveja e um cigarro na frente, mais parecido com um ebó! Aqui vão as fotos que não me deixam mentir:
terça-feira, fevereiro 22, 2005
Gênio
Fui lá no show de Teresa Cristina e Monarco no CCBB em homenagem ao Ismael Silva. Foi maravilhoso e eles cantaram uma música genial. Assino embaixo.
O Que Será de Mim?
(Ismael Silva, Nilson Bastos e Francisco Alves)
Se eu precisar algum dia
De ir pro batente
Não sei o que será
Pois vivo na malandragem
E vida melhor não há
Minha malandragem é fina
Não desfazendo de ninguém
Deus é quem nos dá a sina
E o valor dá-se a quem tem
Também dou a minha bola
Golpe errado ainda não dei
Eu vou chamar Chico Viola
Que no samba ele é rei
Dá licença seu Mário
Oi, não há vida melhor
Que vida melhor não há
Deixa falar quem quiser
Deixa quem quiser falar
O trabalho não é bom
Ninguém pode duvidar
Oi, trabalhar só obrigado
Por gosto ninguém vai lá
O Que Será de Mim?
(Ismael Silva, Nilson Bastos e Francisco Alves)
Se eu precisar algum dia
De ir pro batente
Não sei o que será
Pois vivo na malandragem
E vida melhor não há
Minha malandragem é fina
Não desfazendo de ninguém
Deus é quem nos dá a sina
E o valor dá-se a quem tem
Também dou a minha bola
Golpe errado ainda não dei
Eu vou chamar Chico Viola
Que no samba ele é rei
Dá licença seu Mário
Oi, não há vida melhor
Que vida melhor não há
Deixa falar quem quiser
Deixa quem quiser falar
O trabalho não é bom
Ninguém pode duvidar
Oi, trabalhar só obrigado
Por gosto ninguém vai lá
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Chegou na Nicarágua!
Notícias do desastre da Portela chegaram na Nicarágua! Vejam o que diz o irmão do Thomas que mora lá estava aqui no começo do carnaval:
Nobre colega - muito obrigado por tua notinha pós-desastre do Portela.
Já sabía - catástrofes de estas proporçoes chegam aos ouvidos até da
longínqua Nicarágua!
Me alegra que o Federigo está melhor. Um abraço para voce e Fernanda, e
de paso um grande saludo também para Claudia, Julio e JG.
"Levanta,
sacode a poeira, da a volta por cima!"
Daví
Nobre colega - muito obrigado por tua notinha pós-desastre do Portela.
Já sabía - catástrofes de estas proporçoes chegam aos ouvidos até da
longínqua Nicarágua!
Me alegra que o Federigo está melhor. Um abraço para voce e Fernanda, e
de paso um grande saludo também para Claudia, Julio e JG.
"Levanta,
sacode a poeira, da a volta por cima!"
Daví
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
Cafona é a mãe
Maria Bonita Extra, Richards e Shop 126 de Ipanema estão em liquidação. O resto está em sale, soldes e cafonalha do gênero. A melhor é uma loja de lustres aqui perto: opportunité, 50% off. Segundo o Gabriel, os vendedores devem atender os clientes em esperanto!
Falar nisso, infelizmente, o Severino não é a cara de um bom pedaço do Brasil?
Falar nisso, infelizmente, o Severino não é a cara de um bom pedaço do Brasil?
terça-feira, fevereiro 15, 2005
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Julinho no Carnaval
Pessoal,
Divido com vcs algumas impressões (não as melhores, por sorte) sobre nosso
desfile na Portela. Agora, muitas coisas começam a fazer sentido para mim.
E, como vcs são tão queridos, gostaria de compartilhá-las. Perdoem os erros,
escrevi num momento acalorado (digamos). Beijos saudosos a todos.
PALHAÇADA
Na última terça-feira, a de Carnaval, tive um encontro marcado com o samba. Não que seja aficionado pelo ritmo dos tamborins e cavaquinhos. É que, pela primeira vez, desfilaria por uma escola do grupo especial no Rio de Janeiro, a Portela. E lá estava eu, com um grupo de amigos, na hora marcada, pronto para entrar na avenida. O coração começou a bater forte assim que os fogos estouraram avisando de que a escola já invadia a Sapucaí. Para minha surpresa, a ala de arlequins, pierrôs e colombinas – da qual fazíamos parte – encerraria o desfile, atrás do carro alegórico onde estavam as mais ilustres figuras do samba nacional. Pensei: que honra! E como tudo era festa, os foliões de nossa ala se divertiam, cantarolando o samba da “azul e branco”. Demorei a perceber, no meio deles, o ator global Dado Dolabella. Só me dei conta quem era quando ele se dirigiu a mim, depois
de gritar profético e tresloucado que a escola seria campeã. Por uns segundos firmei o olhar em seu rosto, tentando identificar de quem seriam aqueles traços tão familiares por baixo da maquiagem. Talvez tenha me demorado demais, um ultraje para ego tão exigente. Cambaleando (devia ter bebido bastante), ele se afastou, se apoiou em alguns integrantes da turma, e disparou: “sai pra lá que eu não quero ver a mangueira entrar”. Fiquei perplexo, sem reação. Para bom entendedor, a frase falava por si. Apesar de se referir à escola de samba (que tinha desfilado no dia
anterior), ela vinha cheia de conotação sexual e, no caso, homoerótica. Se Dolabella queria ou não ver a “mangueira entrar” e, vale explicar: nele!, óbvio, ninguém precisava ficar sabendo. Mas ele só disse aquilo depois de se dirigir a mim. Portanto, ele se referia à minha mangueira. E, para tal, deve ter acreditado que o encarava porque estava “a fim”. Sendo ou não gay, ele deveria estar cansado de saber que, nem se quisesse, veria a dita cuja entrar. A menos que caprichasse em contorções. Mas esqueçamos esta passagem já, de saída, lamentável. O que me pegou foi o “sai pra lá”. Ainda que seja o Dado Dolabella, cuja delicadeza é a mesma de um elefante transitando numa horta, fui discriminado porque, não sei como, ele me identificou como gay. Sabe-se, que os iguais se reconhecessem, mas este não é o mérito da questão. O fato é que me fez sentir rebaixado por ser gay. Palhaço por fora, me senti palhaço por dentro. E fiquei tristonho, um autêntico Pierrô. Mas a palhaçada não terminou aí. Fazia mais de três horas que esperávamos
para entrar na avenida. O cronômetro, na concentração, computava 50 minutos de desfile. Na nossa frente, o carro continuava estático. Sobre eles, a prata da casa, a velha-guarda, ícone dos 21 títulos carnavalescos conquistados desde 1933. Um deles, Monarco, de tão importante virou enredo de outra agremiação carnavalesca. Mais dez minutos se passaram, e nada. Foi quando, de repente, uns e outros começaram a gritar para que corrêssemos. Quando demos a volta no carro, diretores da escola berravam: “corre, porra!” “corre, porra!” A adrenalina do momento pode ter-me enganado na medição, mas estávamos a uns bons 200 metros da Sapucaí. Lá, os portões já estavam meio fechados. Achei estranho, mas imaginei que ao virar à esquerda para entrar na avenida minha ala estaria compacta, aprontando-se para sambar. Quando virei, havia um clarão de mais de 300 metros entre a gente e a penúltima ala da escola. Era correr ou correr. Imbuídos do espírito carioca, que idolatra as glórias passadas da azul e branco de Madureira, apertamos o passo numa disparada que de samba pouco tinha. Em segundos, o sambódromo virou velódromo. Era como se fôssemos personagens de StarTrek viajando naquela espaçonave que ultrapassa a velocidade da luz. E a nave só brecou quando encontramos a ala à frente, a cinco minutos da praça da Apoteose. Boa parte de nós, que éramos 350 no início, ficou para trás, depois que os portões fecharam-se por completo, minutos após minha passagem. Foram barrados, a velha-guarda e o Dolabella. Contra isso, ambos bateram o pé, cada um à sua moda. Depois de tudo, seria natural que eu chegasse na dispersão sem fôlego e destruído moralmente. A pergunta é: por que permiti tanto desrespeito? Só agora, vendo a gravação do desfile é que entendo este capítulo tão simbólico da minha vida. Assim que a velha-guarda entrou, depois de autorizada pelo presidente da Liga das Escolas, as arquibancadas levantaram-se para aplaudi-los. Já não valia mais nada para a contagem dos pontos. Nós, os palhaços, levamos a Portela até o fim dentro do prazo regulamentar. Mas em momento algum arrancamos palmas do público, que de uma ponta à outra da travessia esteve impávido, gélido, silencioso; como se ali, só houvéssemos nós e a Apoteose. Então, pude perceber quantos estragos tenho feito na minha vida reverenciando o tradicionalismo. Afinal de contas, como aquela gente na
arquibancada eu bato palmas e dou meu sangue, como se diz, ao que parece glorioso, secular, imutável. Um breve resumo: na concentração, sucumbi ao peso da “supremacia heterossexual”, tradicionalíssima em milênios de humanidade, envergonhado por ter sido “descoberto” gay no meio de tantos pelo ator da Globo. E nem consegui esboçar uma reação. Na avenida, extrapolei os limites físicos em nome de glórias passadas que se mostraram insuficientes para arrebatar o título.
Faz 30 anos que a Portela não volta ao topo das campeãs. Tradição não é tudo, não dá conta de cavar no presente – no aqui e agora – um lugar de liderança. E assim a escola vem se perdendo, chegando ao absurdo de terminar em 13º lugar, correndo o risco de ser rebaixada. Agora, quem de fato terminou no chão foi o Dado Dolabella, que levou um soco de um segurança que teve de contê-lo depois de sair do ambulatório (o ator teve um piti porque não conseguiu chegar à Sapucaí a tempo), já quando a Imperatriz Leopoldinense ganhava a avenida. Mas por que voltei a ele, caramba? Ah, já sei. É que enquanto me embriagava com todos esses desastres na mão, num botequim da Lapa, onde fomos afogar as mágoas, alguém cantarolou uma marchinha. Dizia que Pierrô tinha se apaixonado por Colombina, que estava de olho mesmo no Arlequim. Resultado: ela acabou ficando na mão, porque Arlequim fechou a conta com Pierrô. Talvez Dolabella pudesse perceber que na verdade tem muito medo de se sentir atraído por um homem que, vale lembrar, apenas olhou para seu rosto de palhaço. Uma pena que só saquei isso agora,na quarta-feira de cinzas.
Julio Wiziack
Divido com vcs algumas impressões (não as melhores, por sorte) sobre nosso
desfile na Portela. Agora, muitas coisas começam a fazer sentido para mim.
E, como vcs são tão queridos, gostaria de compartilhá-las. Perdoem os erros,
escrevi num momento acalorado (digamos). Beijos saudosos a todos.
PALHAÇADA
Na última terça-feira, a de Carnaval, tive um encontro marcado com o samba. Não que seja aficionado pelo ritmo dos tamborins e cavaquinhos. É que, pela primeira vez, desfilaria por uma escola do grupo especial no Rio de Janeiro, a Portela. E lá estava eu, com um grupo de amigos, na hora marcada, pronto para entrar na avenida. O coração começou a bater forte assim que os fogos estouraram avisando de que a escola já invadia a Sapucaí. Para minha surpresa, a ala de arlequins, pierrôs e colombinas – da qual fazíamos parte – encerraria o desfile, atrás do carro alegórico onde estavam as mais ilustres figuras do samba nacional. Pensei: que honra! E como tudo era festa, os foliões de nossa ala se divertiam, cantarolando o samba da “azul e branco”. Demorei a perceber, no meio deles, o ator global Dado Dolabella. Só me dei conta quem era quando ele se dirigiu a mim, depois
de gritar profético e tresloucado que a escola seria campeã. Por uns segundos firmei o olhar em seu rosto, tentando identificar de quem seriam aqueles traços tão familiares por baixo da maquiagem. Talvez tenha me demorado demais, um ultraje para ego tão exigente. Cambaleando (devia ter bebido bastante), ele se afastou, se apoiou em alguns integrantes da turma, e disparou: “sai pra lá que eu não quero ver a mangueira entrar”. Fiquei perplexo, sem reação. Para bom entendedor, a frase falava por si. Apesar de se referir à escola de samba (que tinha desfilado no dia
anterior), ela vinha cheia de conotação sexual e, no caso, homoerótica. Se Dolabella queria ou não ver a “mangueira entrar” e, vale explicar: nele!, óbvio, ninguém precisava ficar sabendo. Mas ele só disse aquilo depois de se dirigir a mim. Portanto, ele se referia à minha mangueira. E, para tal, deve ter acreditado que o encarava porque estava “a fim”. Sendo ou não gay, ele deveria estar cansado de saber que, nem se quisesse, veria a dita cuja entrar. A menos que caprichasse em contorções. Mas esqueçamos esta passagem já, de saída, lamentável. O que me pegou foi o “sai pra lá”. Ainda que seja o Dado Dolabella, cuja delicadeza é a mesma de um elefante transitando numa horta, fui discriminado porque, não sei como, ele me identificou como gay. Sabe-se, que os iguais se reconhecessem, mas este não é o mérito da questão. O fato é que me fez sentir rebaixado por ser gay. Palhaço por fora, me senti palhaço por dentro. E fiquei tristonho, um autêntico Pierrô. Mas a palhaçada não terminou aí. Fazia mais de três horas que esperávamos
para entrar na avenida. O cronômetro, na concentração, computava 50 minutos de desfile. Na nossa frente, o carro continuava estático. Sobre eles, a prata da casa, a velha-guarda, ícone dos 21 títulos carnavalescos conquistados desde 1933. Um deles, Monarco, de tão importante virou enredo de outra agremiação carnavalesca. Mais dez minutos se passaram, e nada. Foi quando, de repente, uns e outros começaram a gritar para que corrêssemos. Quando demos a volta no carro, diretores da escola berravam: “corre, porra!” “corre, porra!” A adrenalina do momento pode ter-me enganado na medição, mas estávamos a uns bons 200 metros da Sapucaí. Lá, os portões já estavam meio fechados. Achei estranho, mas imaginei que ao virar à esquerda para entrar na avenida minha ala estaria compacta, aprontando-se para sambar. Quando virei, havia um clarão de mais de 300 metros entre a gente e a penúltima ala da escola. Era correr ou correr. Imbuídos do espírito carioca, que idolatra as glórias passadas da azul e branco de Madureira, apertamos o passo numa disparada que de samba pouco tinha. Em segundos, o sambódromo virou velódromo. Era como se fôssemos personagens de StarTrek viajando naquela espaçonave que ultrapassa a velocidade da luz. E a nave só brecou quando encontramos a ala à frente, a cinco minutos da praça da Apoteose. Boa parte de nós, que éramos 350 no início, ficou para trás, depois que os portões fecharam-se por completo, minutos após minha passagem. Foram barrados, a velha-guarda e o Dolabella. Contra isso, ambos bateram o pé, cada um à sua moda. Depois de tudo, seria natural que eu chegasse na dispersão sem fôlego e destruído moralmente. A pergunta é: por que permiti tanto desrespeito? Só agora, vendo a gravação do desfile é que entendo este capítulo tão simbólico da minha vida. Assim que a velha-guarda entrou, depois de autorizada pelo presidente da Liga das Escolas, as arquibancadas levantaram-se para aplaudi-los. Já não valia mais nada para a contagem dos pontos. Nós, os palhaços, levamos a Portela até o fim dentro do prazo regulamentar. Mas em momento algum arrancamos palmas do público, que de uma ponta à outra da travessia esteve impávido, gélido, silencioso; como se ali, só houvéssemos nós e a Apoteose. Então, pude perceber quantos estragos tenho feito na minha vida reverenciando o tradicionalismo. Afinal de contas, como aquela gente na
arquibancada eu bato palmas e dou meu sangue, como se diz, ao que parece glorioso, secular, imutável. Um breve resumo: na concentração, sucumbi ao peso da “supremacia heterossexual”, tradicionalíssima em milênios de humanidade, envergonhado por ter sido “descoberto” gay no meio de tantos pelo ator da Globo. E nem consegui esboçar uma reação. Na avenida, extrapolei os limites físicos em nome de glórias passadas que se mostraram insuficientes para arrebatar o título.
Faz 30 anos que a Portela não volta ao topo das campeãs. Tradição não é tudo, não dá conta de cavar no presente – no aqui e agora – um lugar de liderança. E assim a escola vem se perdendo, chegando ao absurdo de terminar em 13º lugar, correndo o risco de ser rebaixada. Agora, quem de fato terminou no chão foi o Dado Dolabella, que levou um soco de um segurança que teve de contê-lo depois de sair do ambulatório (o ator teve um piti porque não conseguiu chegar à Sapucaí a tempo), já quando a Imperatriz Leopoldinense ganhava a avenida. Mas por que voltei a ele, caramba? Ah, já sei. É que enquanto me embriagava com todos esses desastres na mão, num botequim da Lapa, onde fomos afogar as mágoas, alguém cantarolou uma marchinha. Dizia que Pierrô tinha se apaixonado por Colombina, que estava de olho mesmo no Arlequim. Resultado: ela acabou ficando na mão, porque Arlequim fechou a conta com Pierrô. Talvez Dolabella pudesse perceber que na verdade tem muito medo de se sentir atraído por um homem que, vale lembrar, apenas olhou para seu rosto de palhaço. Uma pena que só saquei isso agora,na quarta-feira de cinzas.
Julio Wiziack
guerra do cuscuz
guerra do cuscuz
Originally uploaded by claudia.maximino.
Fiz um cuscuz de sardinha e atum. As gatas quase tiveram um troço, tadinhas. Ficou uma delícia!
Lembrei da maravilhosa guerra de cuscuz na casa do Marrinha. E dos cuscuz(es? cruzes!) da minha mãe e da Di. Bons demais.
domingo, fevereiro 13, 2005
Eu, seu Xangô e meio Paulo
Eu, seu Xangô e o Paulo
Originally uploaded by claudia.maximino.
Só uma fotinha bacana daquela noite de janeiro.
Xangô da Mangueira
Xangô
Originally uploaded by claudia.maximino.
Seu Xangô (de prateado à direita), ontem, mais uma vez elegantérrimo no desfile da Mangueira.
Dúvida cruel
Longe de mim defender bicheiros, mas alguém me explica uma coisa: se Maninho e Mirinho (sem comentários...) eram homens livres quando morreram, que eu saiba não estavam foragidos da polícia nem nada, por que o Salgueiro foi proibido de homenageá-los no final do desfile?
Não existe justiça no mundo do samba
Cada vez mais eu acho que esse negócio de samba é muito subjetivo. Depois de assistir ao desfile das campeãs ontem, eu teria dado o título pra Tijuca (se bem que o 1 décimo que eles tiveram de diferença da Beija-flor não devia nem valer), seguida da Imperatriz. Eu até entendo porque a Beija-flor ganhou. A escola é bonita, perfeitinha, povo empolgado, mas, depois da décima ala de indio emplumado, você já está querendo se jogar da arquibancada! Ainda mais tomando Schin, convenhamos. É tudo meio chato, sem nexo. Eu sou mais pela criatividade do que pelo luxo. Gosto de escola que conta história. E achei a Beija-flor meio over. Pluma, pena, pluma, pena. E cadê o enredo? Mas isso é de gosto, né? Não dá nem pra dizer que os jurados roubam. Agora, a Grande Rio é incompreensível. O samba era ruim, as alas eram ruins (falava de comida então as alas eram assim: porquinhos, vaquinhas, coelhinhos, peixinhos.... Haja!). Plasticamente, a Imperatriz estava o máximo, principalmente nos carros. Agora, a Tijuca é a escola mais criativa, apesar de mais simples. Eu prefiro. Mas eu não voto...
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Mortos-vivos
Mortos-vivos
Originally uploaded by claudia.maximino.
No domingo, os bravos carnavalescos Paulo e Verônica saíram na Unidos da Tijuca, na ala dos mortos-vivos. A fantasia tinha até cheiro de podre! Sábado agora, estarão no desfile das campeãs e nós vamos assistir.
Até que ficou bonito na avenida
Foto da Folha
Originally uploaded by claudia.maximino.
Aquele mar de branco: as colombinas e os pierrots maratonistas da Portela. Em vez de simbolizar a paz mundial, nos tornamos a ala do esporte.